RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: A PRIMEIRA SINAGOGA DAS AMÉRICAS.
Os primeiros judeus que chegaram ao Brasil vieram com os holandeses e muitos deles eram portugueses que fugiram para Amsterdã por conta da obrigação de conversão obrigatória ao cristianismo, dai o nome cristão novos, sob pena de serem perseguidos pela inquisição.
O açúcar português do novo mundo em grande parte ia parar em Amsterdã e os cristãos novos (judeus convertidos a força) e judeus portugueses eram o elo de ligação nos países baixos dessa cadeia de negócio.
As primeiras famílias de judeus aportaram no Recife em 1635, quando Pernambuco estava sob o domínio holandês e tinha pouco mais de 10 mil habitantes, sendo a mais rica capitania brasileira. Perseguidos na Península Ibérica pela Inquisição Católica, eles vieram atraídos pela liberdade de expressão religiosa que o governo de Maurício de Nassau começou a instalar nas terras tomadas de Portugal (período da União Ibérica).
A Sinagoga Kahal Zur Israel, que significa “Sinagoga Rocha de Israel”, localizada no Recife, atual rua do Bom Jesus (antiga Rua dos Judeus), foi a primeira das Américas, sendo construída em 1636. Seu primeiro Rabino foi o luso-holandês Isaac Aboab da Fonseca, enviado ao Brasil para liderar essa comunidade judaica em crescimento acelerado, no ano de 1642, passando a ser o primeiro religioso e escritor judeu das Américas.
A partir de 1637 é iniciada a construção da sinagoga e concluída em 1641. O material arqueológico datado do século XVII, foi identificado pelo Iphan e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Como comprovação da existência e funcionamento da Congregação, foi identificada a construção de uma piscina com sete degraus - um "mikvê" - utilizada em rituais de banho de purificação. A fachada do prédio data do século XIX e, atualmente, abriga o Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco.
Além da Zur Israel, havia também a Maguen Abraham, de Maurícia, cuja exata localização permanece desconhecida, pois o Inventário dos prédios que os holandeses haviam edificado ou reparado até o ano de 1654 redigido pelo escrivão Francisco Misquita não lhe faz nenhuma menção, embora provavelmente se situasse nas imediações da atual Praça da Independência, situada no bairro de Santo Antônio, no centro do Recife, o que dificulta ainda mais um possível processo de restauração do prédio, semelhante ao que ocorreu com a Zur Israel, porque é uma área ainda bastante ocupada, repleta de casas comerciais e patrimônios histórico-culturais de épocas posteriores.
Posteriormente com a expulsão dos holandeses, tem-se notícia de que os sefarditas deixaram Pernambuco, temendo por suas vidas, pois havia de se considerar o controle do Tribunal do Santo Ofício sobre aquela região. No entanto, muitos não voltaram diretamente para a região de origem dos flamengos, fazendo uma verdadeira diáspora pelo continente americano, sobretudo nas Américas Central e do Norte onde, segundo a tradição, participaram da fundação da cidade de Nova York.
Na 'Big Apple' ou 'Grande Maçã', apelido da cidade de Nova York, um monumento, chamado Jewish Pilgrim Fathers, rende homenagem aos Henrique, Lucena, Andrade, Costa, Gomes e Ferreira que ajudaram a fundar e desenvolver a cidade.
Recentemente, essa saga deu origem ao livro, Arrancados da Terra - Perseguidos pela Inquisição na Península Ibérica, do escritor e jornalista Lira Neto (Editora Companhia das Letras).
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