RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: A LINGUA GERAL NO BRASIL COLONIA
No Brasil Colônia os missionários portugueses que vieram ao Brasil com intuito de catequizar os povos originários entraram em um dilema como pregar a palavra de Deus para os índios sem usar o latim. O pragmatismo prevaleceu e houve a tradução da obra cristã para a língua dos índios principalmente o tupi.
Nos primeiros esforços para
traduzir algumas orações colaborou Diogo Alves, o Caramuru, naufrago que desde
1509/1510 vivia entre os índios da Bahia.
A primeira gramática da Língua
Geral no Brasil foi publicada em 1594, feita por José de Anchieta, jesuíta da
região de São Vicente. A segunda é a de Luís Figueiras, publicada em 1621, e
reeditada em 1687. Luís Vincencio Mamiani (1652-1730) escreveu uma gramática da
língua indígena kiriri (já extinta, era falada em regiões do atual Nordeste
brasileiro).
Recebem o nome de língua geral,
no Brasil, línguas de base indígena praticadas amplamente em território
brasileiro, no período de colonização. A Língua Geral é uma língua
"construída" a partir do tupinambá, que foram dizimados
posteriormente pelo Governador-Geral Mem de Sá, quando em 1557 eliminou mais de
130 aldeias dos tupinambás do Recôncavo Baiano e das capitanias de Ilhéus e Porto Seguro.
A Gramatica da língoa mais usada
na Costa do Brasil, de José de Anchieta, representa a normatização da língua
falada pelos índios do litoral, antes de se tornar a língua geral paulista.
No século XVIII havia duas
línguas gerais: língua geral paulista, falada ao sul do país no processo de
expansão bandeirante, e a língua geral amazônica ou nheengatú, usada no
processo de ocupação amazônica. Destas duas línguas gerais somente o nheengatú
continua a ser utilizado entre os indígenas de diferentes etnias, habitantes da
região norte do país.
A língua geral seria poderoso
instrumento de catequese, sendo usada nos autos jesuíticos por vezes compostos
quase integralmente nessa língua, sendo também a língua das alianças entre
portugueses e chefes nativos, a língua dos escambos e da aquisição de escravos,
a lingus do “descimento” de índios para os engenhos do litoral.
Num encontro entre o bispo de
Olinda, dom Francisco de Lima, em 1697, com Domingos Jorge Velho (tetraneto de
um chefe tupiniquim), que veio ao Nordeste contratado pelo Governador de
Pernambuco para dizimar o Quilombo dos Palmares, o prelado solicitou um
interprete para o encontro por não entender o linguajar do sertanista.
Em fins do século XVIII, a coroa
portuguesa, sob a gestão do marquês de Pombal, expulsou os jesuítas e proibiu o
uso da língua geral, punindo severamente quem a utilizasse, impondo-se, a
partir de então, o idioma português no Brasil. No entanto, a língua geral
meridional somente veio a desaparecer totalmente no início do século XX.
A língua geral tupi e outras
influenciaram em nomes de plantas, animais, gastronomia e nomes de lugares no
Brasil. Há heranças do tupi também em verbos, como cutucar, e em expressões
populares como estar na pindaíba ou ficar jururu.
Segue uma pequena lista: Comidas:
maracujá, açaí, caju, tapioca, mandioca (ou macaxeira, aipim), paçoca, cacau,
pipoca; Animais: tatu, jaguar, ariranha, paca, arara, buriti, jacaré, sabiá;
Lugares: Pará, Curitiba, Paraná,
Sorocaba, Pernambuco, Manaus, Copacabana, Iguaçu, Anhangabaú, Macaranã,
Guarujá, Bauru; Nomes: Moacir, Iracema, Maiara, Ubirajara, Iara, Cauby, Kauane,
Tainara; e, Termos e expressões: pereba, “nhem nhem nhem”, capenga, xará,
cutucar, socar, canoa, muquirana, mirim.
Imagem: Dicionário da Lingua
Kariri - Os interessados em conferir na íntegra podem acessar a página do
dicionário Rodrigues-Seabra da Língua kariri (dialeto Kiriri-Kipeá), disponível
online pela escola Natural Language Institute: https://www.linguanaturalis.com/pt/kariri/
Segue também um PDF da Gramática do Padre
José de Anchieta: https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/4674/1/000592_COMPLETO.pdf
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