RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: MARTIM SOARES MORENO
Martim Soares Moreno nasceu em 1586 (ou talvez 1585) na cidade de Santiago do Cacém em Portugal. Era filho dos portugueses Martim de Loures Moreno e Paula Ferreira Soares. Seu tio, Diogo de Loures Moreno diz que ele (Martim) em 1602 veio para o Ceará com Pero Coelho de Sousa, para que servindo naquele local aprendesse a língua dos índios e seus costumes. E chegou a ser considerado filho adotivo de Jacaúna, o grande cacique local dos potiguares.
Em 1613, Martim Soares Moreno percorreu o Maranhão e o vizinho Pará, em missões de reconhecimento, indo parar nas Antilhas, de onde viajou para Sevilha (período da União Ibérica). Regressou ao Brasil em 1615, onde tomou parte na campanha de reconquista do Maranhão, assumindo papel decisivo, à frente de um contingente de 900 homens, na expulsão definitiva dos franceses e na captura da cidade de São Luís.
No dia 2 de Janeiro de 1616, Alexandre de Moura envia Martim Soares Moreno a servir de capitão de Cumá, no Maranhão, onde infinitos índios, que tiveram comércio com os franceses, muitos dos quais ainda dispersos entre eles, estavam desamparados. Partiu na companhia de um carmelita, Frei Cosme e 255 soldados, com um alferes e um sargento. Pela grande e reconhecida afeição que lhe tinham os índios, aquietou a todos, construindo igrejas e levantando cruzes, até que uma perigosa fístula o obriga a pedir a substituição a Jerónimo de Albuquerque, que lhe envia o seu filho Matias.
Porém, os ventos e as correntes contrárias não permitem o regresso da velha embarcação de Soares Moreno ao Ceará e conduzem-no, pela segunda vez, a Santo Domingo no Caribe, de onde regressa à Europa. No seu retorno ao Brasil um temporal abate-se sobre a frota espanhola e a sua embarcação separa-se das restantes, sendo abordado por um navio pirata francês, lutando até ao desespero. Toda a tripulação é sacrificada, com a exceção de três homens.
Martim Soares Moreno recebe vinte e três ferimentos, uma facada no rosto, perde uma mão e é levado para Dieppe, em França. No juízo do almirantado da cidade francesa se gabou de ter degolado mais de duzentos piratas franceses e flamengos e de lhes ter tomado três navios. Perante as acusações das “viúvas e de outras partes” dos franceses que haviam perecido no Ceará e no Maranhão, é preso e sentenciado à morte. Padece nos cárceres franceses e acaba por ser salvo pela interferência do embaixador espanhol, o Duque de Monteleón. Foi solto ao cabo de dez meses de rigorosa prisão.
Em 26 de Maio de 1619, o rei D Filipe III (União Ibérica), através de Carta Patente o nomeia como capitão-mor da capitania do Ceará, em atenção aos seus serviços. No Ceará, em 1624 e 1625, repeliu os ataques de duas naus holandesas. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares, partiu do Ceará, pois já havia terminando seu período de 10 anos como capitão mor e estava cansado das dificuldades e da falta de recursos e atenção da metrópole, com uns poucos índios e soldados para lutar contra os holandeses e chegou ao Arraial do Bom Jesus, em junho de 1631. Destacou-se sempre, como combatente e intérprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande). Em 1648 já velho retornou a Portugal. E assim desaparecia de cena uma das figuras de guerreiro mais heroicas da História Brasileira. Desconhece-se a data de sua morte.
Em 2018 seu nome foi inscrito no Livro de aço dos heróis nacionais do Brasil depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. Martim Soares Moreno escreveu uma carta de grande valor para os cearenses. A carta se chama "Relação do Siará” onde consta um relato ao Rei de Portugal, numa prestação de contas, as ocorrências principais das jornadas que participou, o apoio de índios, as estratégias para obtenção do apoio, as atitudes de assimilação dos costumes, de modo a que as marcas dos costumes no corpo identificassem a decisão de convertido às regras indígenas; narra os sofrimentos físicos, as dificuldades, a precariedade de alimentação em algumas paragens, a exuberância da natureza, a fartura de madeira, de frutas, de fauna, a aridez da terra em alguns lugares. José de Alencar fê-lo uma das figuras principais do romance Iracema (a índia tabajara dos lábios de mel), publicado em 1865.
Imagem: Inauguração da placa comemorativa alusiva ao IV Centenário da nomeação de Martim Soares Moreno como Capitão-Mor do Ceará, no dia 9 de Novembro de 2019, na Praça Conde de Bracial, em Santiago do Cacém. Esta cerimónia contou com a presença das entidades portuguesas e brasileiras da Câmara Municipal de Santiago. do Cacém, do Instituto do Ceará e da Real Sociedade Arqueológica Lusitana e Câmara Municipal de Santiago do Cacém.
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