RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: NOSSA SENHORA DE COPACABANA
Como o culto à N. S. de Copacabana, no baixo Peru, no lago Titicaca, deu o nome a uma das praias mais famosas do Brasil. Na região ocorria o culto a uma divindade chamada Kopakawana, que protegia o casamento e a fertilidade das mulheres. Segundo uma lenda oriunda do antigo império Inca: uma virgem teria aparecido para Francisco Tito Yupanqui, um jovem pescador que, em sua homenagem, teria esculpido uma imagem da santa que ficou conhecida como Nossa Senhora de Copacabana
Nossa Senhora de Copacabana é, portanto, uma forma de provocar a aproximação entre culturas distintas — algo semelhante ao que ocorre com Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Ambas as santas, embora cultuadas pelo catolicismo europeu, não têm a pele clara dos povos do Norte: o bronzeado andino ou a negritude afro-brasileira que ostentam já é fruto da mesclagem de crenças e padrões estéticos oriundos de ibéricos e indígenas ameríndios ou africanos.
A alta mortalidade de indígenas seja pela questão biológica das doenças trazidas do velho mundo (Europa) ou pelo trabalho realizado nas minas de Potosi, leva a economia hispano-americana em portos como Vera Cruz, Buenos Aires, Cartagena e Lima a se utilizar da mão de obra africana muitas vezes fornecida pelos portugueses em troca da prata peruana. Prata essa que chegou aos confins da Ásia, nas Filipinas, e serviu de moeda de troca com os chineses por sua seda e porcelana.
A oligarquia dos Sá (Estácio de Sá, Mem de Sá, Salvador Sá) e seus aliados fluminenses ajudaram nesse sentido, tendo inclusive patrocinando uma expedição para retomar Angola dos holandeses e ter novamente acesso ao mercado de escravos africanos e consequentemente acesso à prata peruana. Enquanto isso os paulistas estavam voltados para o aprisionamento de índios e não participavam diretamente dessa conexão do mercado atlântico de escravos negros africanos.
Voltando à Virgem de Copacabana, temos que falar dos peruleiros, termo de origem espanhola que era usado no início do século XVII para designar os comerciantes da América Portuguesa que faziam negócios com os espanhóis do Baixo Peru e, mais concretamente, importavam prata dessa região, consoante destaca Luiz Felipe de Alencrastro, em seu excelente livro: o Trato dos Viventes.
Os peruleiros trouxeram uma réplica da imagem de N. S de Copacabana para a praia do Rio de Janeiro, que na época era chamada de Sacopenapã (nome tupi que significa "caminho de socós"). Sobre um dos rochedos da praia, foi erguida uma capela em homenagem à santa. Com o passar dos anos, o nome da capela passou a designar a praia e o bairro. A capela veio a ser demolida em 1914, para que fosse construído em seu local de origem o atual Forte de Copacabana.
O filme Copacabana, dirigido por Carla Camurati, utiliza o humor carioca para abordar um momento importante da História do Brasil e recuperar uma tradição muito antiga mostrando que bolivianos, peruanos e brasileiros possuem muitas conexões. Segue o link do filme: https://www.youtube.com/watch?v=qJq6Jhcl6uA
Imagem: Foto do acervo digital da Biblioteca Nacional da Igrejinha de Copacabana no local onde hoje se encontra o Forte de Copacabana.
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