RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: ALEIXO GARCIA O PRIMEIRO EUROPEU A CHEGAR AOS ANDES.

Em 1515, Aleixo Garcia embarcou na expedição comandada pelo espanhol Juan Díaz de Solís, que tinha como objetivo encontrar uma passagem para o Oceano Pacífico na parte meridional da América do Sul. A expedição ingressou do Rio da Prata e foi atacada por nativos da etnia guarani. O ataque causou a morte do comandante e de muitos integrantes da expedição.

Os sobreviventes, comandados por Francisco de Torres, cunhado de Solís, decidiram retornar à Espanha. Durante o retorno, uma das caravelas naufragou em frente à Ilha de Santa Catarina. Em decorrência do naufrágio, 18 tripulantes (14 espanhóis e 4 portugueses), dentre eles Aleixo Garcia, ficaram na Ilha de Santa Catarina, aos quais se juntou um outro português de expedições portuguesas anteriores, onde se inteiraram da existência de "grandes riquezas" no interior do continente e de um rei branco.

Em 1524, após viver entre os índios Carijós e escutar muitos relatos sobre uma “cidade do ouro” organizou uma expedição integrada pelos Carijós e partiu da ilha de Santa Catarina ("Meiembipe") utilizando-se do Caminho Peabiru. Pelo caminho, Aleixo recrutou mais guaranis, de outras tribos, entre elas os chanés e os tarapecocis. Quando chegou às proximidades do Rio Paraguai, o exército já tinha 2 000 integrantes, contando mulheres e crianças. Aleixo atingiu o território do Império Inca, antes da morte do soberano Huayna Capac rei branco, conhecido pelos indígenas como rei branco, em 1526 e nove anos antes da invasão espanhola dos Andes em 1533.

Aleixo teria chegado muito próximo a Potosí, onde ficava a montanha de cerca de 600 metros recheada com prata. Percorreu o rio Paraguai chegando até os limites orientais do Tawantinsuyu, passando pela região de Cochabamba no que hoje é a atual Bolívia e atravessando a parte norte do Chaco. A expedição conseguiu encontrar e saquear as riquezas que buscava, mas foi atacada pelos paiaguás, que mataram a maior parte de seus integrantes, entre eles Aleixo, que foi enterrado onde hoje se encontra a cidade de San Pedro de Ycuamandyú, capital do departamento paraguaio de San Pedro.

No ataque, centenas de homens foram mortos, seu filho e o companheiro Francisco Pacheco, mulato, um dos náufragos de Santa Catarina, sobreviveram ao massacre. Retornaram com alguns índios carregados de certa quantidade do metal e muita história sobre a expedição. Ao chegarem em SC, Francisco Pacheco relata a aventura e apresenta as peças saqueadas aos náufragos Gonçalo da Costa, Melchior Ramires e Henrique Montes, que haviam ficado em Santa Catarina.

Em 1526 quando Sebastião Caboto, então comandando uma esquadra com destino a Málaca, na Malásia, fez escala em Santa Catarina e encontrou os três náufragos. O relato da expedição, acompanhado das reluzentes provas metálicas, produziu efeitos no experiente navegador, que se decidiu por seguir o relato oral da prata.

Henrique Montes e Melchior Ramires foram contratados para embarcar na nova expedição como oficiais, reconectando-se à sociedade europeia numa posição social superior àquela de quando haviam partido. Depois de navegarem até a foz do rio da Prata, embrenharam-se no rio Paraná, subindo-o para além da foz do rio Paraguai, até colherem a informação de que o caminho correto para o oeste era pelo rio Paraguai, que haviam deixado para trás. Enquanto voltavam para tomar o novo caminho, encontraram os bergantins de outro espanhol que subia o rio, também desviado do caminho da Ásia. O inusitado encontro foi possível porque o comandante de outra expedição espanhola, Diego Garcia, fizera escala em Cananéia, onde viviam os dois outros personagens que conheciam a história: Gonçalo da Costa e o sobrevivente Francisco Pacheco. Ali, o ritual se repetiu quase sem modificações. Depois de contarem o que sabiam e mostrarem as provas, os dois também acabaram contratados como oficiais para guiarem pelo continente adentro. Os dois grupos não acharam o caminho para o império do Rei Branco.

A notícia do ouro e do império do rei Branco rapidamente percorreu continentes chegando aos ouvidos das Coroas Ibéricas (Espanha e Portugal), despertando a cobiça pela Serra da Prata.

Saiba mais em: BOND, Rosana. A Saga de Aleixo Garcia, o Descobridor do Império Inca. Florianópolis: Insular, 1998.

O filme "De Meiembipe a Chuquisaca: a descoberta do Império Inca" de Carolina Borges de Andrade conta e revive a aventura épica do navegador Aleixo Garcia, sendo inspirado na obra de Rosana Bond, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=amEVxL6Vy2Q .




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