RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: REVOLTAS INDIGENAS DA CAPITANIA DE ILHEUS.
A Revolta mais conhecida é a do Engenho de Santana, que colocou em risco os investimentos realizados por Mem de Sá e seus herdeiros – sua única filha, D. Filipa de Sá, e seu marido, Fernando de Noronha, o 3º Conde de Linhares e o último herdeiro em linha direta dessa família – e pelos demais sesmeiros e colonos na vila e seus arredores.
A documentação sobre a revolta
encontra-se na Torre do Tombo, Cartório dos Jesuítas, Maço 15, nº 4,
18/11/1603, apensada ao Laudo Pericial sobre as terras de Olivença pela
pesquisadora Susana Viegas. A revolta como muitas desse período do inicio da
colonização guarda relação com a escravização de índios.
Segundo o padre Manuel da
Nóbrega, dois índios haviam sido assassinados e outros reagiram matando dois ou
três moradores e assaltando uma roça. A repressão teria sido brutal: destruição
de aldeais, morte aos revoltosos, mesmo daqueles que se refugiaram no mar. Daí
o nome de Batalha dos Nadadores. Hoje, o episódio foi apropriado pelos
Tupinambás de Olivença/BA, que rememoram o fato anualmente com uma grande
passeata pela estrada que liga o antigo aldeamento de Olivença a Ilhéus.
Mem de Sá que sempre foi brutal
com os índios escreveu sobre a batalha: “[...] nenhum Tupinikin ficou vivo e
todos os trouxeram a terra e os puseram ao longo da praia por ordem que tomavam
os corpos perto de uma légua.” - (Carta de Mem de Sá ao rei de Portugal, de
31/3/1560. In Silva Campos. Crônica da capitania de São Jorge de Ilhéus. Rio de
Janeiro, MEC/Conselho Federal de Cultura, 1981. p. 44).
A matança e as epidemias de 1560
e 1563 fizeram com que os colonos fossem para o interior em busca de escravos e
foi ai que entraram em contato com os Aimorés (Jês), índios com fama de
violentos, segundo os colonos.
Os aimorés numa de suas
investidas atacaram o engenho de Bartolomeu Lopes de França e os índios mataram
todos (marido, mulher e filhos) durante o jantar.
Com tal evento o terror se
espalhou pela capitania e os colonos buscaram fugir pela costa rumo a Salvador.
Os aimorés caçaram os portugueses e sobreviveram somente os que conseguiram
fugir pelo mar, pois os aimorés não entravam no mar.
O confronto com os Aimorés levou
ao deslocamento de índios Potiguares de aldeais do Nordeste como o famoso
cacique Zorobabé para proteger a capitânia de Ilhéus.
Nesse contexto o Engenho Santana
deliberou por iniciar a lenta substituição de indígenas por “negros de Guiné” e
também por conta da Bula Papal do ano de 1570, que proibia a escravidão
indígena e resultou em alterações na legislação indigenista portuguesa.
A revolta em 1602/1603 consistiu
em incendiar o engenho e numa fuga coletiva de índios e negros escravizados,
com maioria dos primeiros, para os sertões.
Os Aimorés, conhecidos também
como botocudos (por enfeitarem o lábio inferior com um batoque de madeira)
foram os responsáveis pelos fracassos das capitanias de Ilhéus, Porto Seguro e
Espírito Santo. Só foram vencidos no início do século XX (BUENO, E. Brasil: uma
história. 2ª edição. São Paulo. Ática. 2003. p. 19). Sobrevivem até hoje sob a
forma da etnia contemporânea dos crenaques.
Em 1986, Ailton Krenak,
descendente dos aimorés, importante líder indígena, foi eleito para o Congresso
Nacional do Brasil, vindo a participar da elaboração da Constituição Brasileira
de 1988 tendo ajudado a incluir um capítulo sobre a proteção dos direitos dos
povos indígenas na nossa carta politica.
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