RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: A SANTIDADE DO JAGUARIPE
Antes da chegada dos portugueses o mito indígena tupi de uma TERRA SEM MALES estimulava a imigração dos índios para o litoral. Com a chegada dos europeus esse fluxo se inverte e o sertão virou rota de fuga.Com a catequização de índios pelos jesuítas o mito da TERRA SEM MALES se metamorfoseou.
Nessa época (anos 1580 e seguintes) um índio nascido em missão inaciana, batizado cristão com o nome de Antônio, instruído na doutrina de Cristo, era por vocação um tremendo pajé.
O Padre Manoel da Nobrega foi o primeiro a noticiar a existência de feiticeiros entre os índios que “fingiam” santidade. A região do recôncavo baiano era terra comum no aparecimento dessas santidades e o índio batizado Antonio se tornou uma delas que ficou conhecida como a Santidade do Jaguaripe.
Tais fatos somente chegaram ao nosso conhecimento devido à visita da inquisição à Bahia no ano de 1891 e se encontram registrados no processo contra o fazendeiro Fernão Cabral de Ataíde, natural de Silves, cidade de Algarve, que acolheu a santidade em suas terras, tendo passado um ano preso e sua pena foi ser desterrado por dois anos por ter “protegido” a Santidade. O pai de Fernão Cabral de Ataíde era Diogo Fernandes Cabral, um dos irmãos de Pedro Álvares Cabral. Fernão Cabral era um escravista, teve conflitos com a Companhia de Jesus e jogou uma negra gravida na fornalha do engenho. Não se sabe ao certo como um escravista acolheu em suas terras esse aldeamento.
Na Santidade de Jaguaripe, catolicismo e mitologia tupinambá se mesclavam de maneira formidável: o Papa era Tamandaré, a Virgem Maria era casada com o Papa, a cruz e o ídolo se revezavam na devoção dos índios, rosários eram desfiados, maracás chacoalhados. No local foi construída uma igreja denominada de Nova Jerusalém.
Emissários da Santidade do Jaguaripe percorriam engenhos e lavouras, incitando os índios escravizados a fugir. Faziam o mesmo nos aldeamentos da Companhia de Jesus. Chegaram a incendiar um engenho e destruíram a Igreja de Santo Antônio. Escravistas de toda a capitania protestavam junto ao Governador. Os jesuítas, desesperados, exigiam providências. Os moradores, em geral, viviam apavorados. A Bahia vivia atormentada por esta que foi, sem dúvida, a maior rebelião indígena do século XVI. O aldeamento foi dizimado por ordens do governador da Bahia.
A Santidade do Jaguaripe é um dos poucos relatos daqueles que lutaram contra os conquistadores europeus e merecem o registro para que sua história não seja esquecida.
Segue o PDF do livro: Fernão Cabral de Ataíde e a santidade do Jaguaripe: http://www.saberaberto.uneb.br/.../Fernao_cabral_ataide...
Figura - Dança tupinambá de John White, gravura de 1580 presente no Museu Britânico.
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