RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: QUILOMBO DOS PALMARES

 


A história do Brasil conhece poucos os quilombos dos muitos que existiram. Palmares é o mais famoso exemplo pela durabilidade (100 anos) e pela guerra para a sua destruição, pois era um entrave ao projeto colonial português. Pouco se sabe sobre a organização politica, religiosa e social dos quilombos, uma vez que tais aspectos são retratados por fontes, que narraram fatos geralmente sem tê-los presenciados após a destruição de tais comunidades. Com certeza, os negros que fugiam das senzalas para os quilombos buscavam uma situação de vida melhor fugindo da escravidão e violência colonial portuguesa. Não é a toa que Padre Antonio Vieira, à época, alertava para o risco do Brasil virar uma grande Palmares.

Africanos de diferentes grupos étnicos mesclavam-se nos quilombos, como forma de resistir a uma determinação política anterior de separá-los de tudo o que significasse expressão de identidade de um povo: línguas, famílias, costumes, religiões, tradições. Tudo isso é retomado em todos os momentos da resistência quilombola, na reinvenção de políticas e estratégias de luta pela liberdade, sempre com postura crítica, face ao colonizador e ao escravocrata.

Os colonizadores chamavam tais agrupamentos de quilombo (palavra de origem banto – kilombo) ou mocambo (derivado do quimbundo – mukambo). Palmares era conhecida entre os portugueses como Angola Janga.

“Onde houve escravidão, houve resistência. E de vários tipos. Mesmo sob ameaça de chicote, o escravo negociava espaços de autonomia, fazia corpo mole no trabalho, quebrava ferramentas, incendiava plantações, agredia senhores e feitores, rebeleva- se individual e coletivamente. Houve um tipo de resistência que poderíamos considerar a mais típica da escravidão […] trata-se das fugas e formação de grupos de escravos fugidos […] essa fuga aconteceu nas Américas e tinha nomes diferentes: na América espanhola: Palenques, Cumbes; na inglesa, Maroons; na francesa, grand Marronage e petit Marronage […]; no Brasil, Quilombos e Mocambos e seus membros: Quilombolas, Calhambolas ou Mocambeiros.” (REIS, João José. Uma história da liberdade. In: REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (Orgs.). Liberdade por um fio: história do quilombo no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996., p.47)

Os quilombos mais representativos, além de Palmares, desse traço colonial brasileiro são: a) Quilombo do Rio Trombetas situado nas proximidades das Cidades de Santarém e Óbidos; b) Quilombo do Urubu, situado nas proximidades de Salvador, que teve como principal líder uma mulher chamada Zeferina; c) Quilombo Buraco do Tatu, em Itapuã/BA; d) Quilombo dos Kalunga, que começou com uma aliança entre os indígenas que já viviam no lugar há centenas de anos, de diversas nações: Acroá, Capepuxi, Xavante, Kaiapó, Karajá entre outros e ocupou um grande território que abrange três municípios do Estado de Goiás: Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás; d)  No Maranhão, os escravizados Negro Cosme e Manuel Balaio enfrentaram o exército do Duque de Caxias, na Cidade de Caxias, a principal cidade da província na conhecida guerra da Balaiada; e) Em Minas destacam-se o Quilombo dos Garimpeiros, o do Ambrósio, o do Sapucaí, o do Paraibuna; o de Inficionado; o de Jabuticatubas; o de Misericórdia e o de Campo Grande. Fala-se da existência de 160 quilombos na área de Minas Gerais. O mais importante é o de Campo Grande, com uma população de 20 mil quilombolas; f) Quilombo Jabaquara na serra em Santos onde se concentrava elevado número de escravizados que fugiram das plantações de café no interior da província paulista; g) No interior da província fluminense, havia certo latifúndio chamado Fazenda Freguesia, na qual os escravizados se rebelaram e invadiram outras propriedades rurais.  Seu líder, o escravo Manuel Congo, foi aclamado Rei; e, h) No final da década de 1820, preocupa as autoridades, na vizinhança de Recife o Quilombo de Catucá, liderado por Malunguinho, situado nas matas de Catucá, no Município de Goiana, já nas fronteiras da Paraíba.

Em Palmares o quilombo da Serra da Barriga, que alcançou uma grande região indo do rio São Francisco ao Cabo de Santo Agostinho, durou mais de 100 anos e perpassou o tempo ao sobreviver a ocupação e expulsão dos holandeses. Entretanto, merece no máximo uma nota nos livros didáticos de História do Brasil.

No período de 1670 a 1687 Palmares foi governada por Ganga-Zumba, que vivia na fortaleza Quilombola do Macaco, fundada em 1642 e firmou um tratado de paz com as autoridades coloniais, após um período de lutas entre conflitos, avanços, recuos, exercícios de destreza militar. Após várias expedições para destruição de Palmares o Governo de Pernambuco propõe um acordo que Ganga-Zumba assina em Recife. O acordo não foi cumprido o que foi considerado um equívoco político gravíssimo pelo qual Palmares pagou com a destruição do Quilombo em Cucaú. Zumbi foi aclamado Rei e conduziu com firmeza a luta de resistência.

O Rei de Portugal escreveu uma carta para Zumbi dos Palmares, propondo uma anistia/acordo e a sua liberdade e seus familiares e capitães ( https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/wp-content/uploads/2013/07/carta-do-rei-a-zumbi-PAL1645-2.pdf ), a qual encontrou grande resistência no Padre Antônio Vieira, que entedia inviável a cristianização e liberdade para os negros, e na elite colonial. Dada a recusa de Zumbi, em aceitar negociações de paz entre Palmares e o Estado colonial, depois de reorganizar o seu povo no Quilombo Real, o exercito colonial, sob o comando do bandeirante Domingos Jorge Velho, circunda as áreas centrais do Quilombo de Palmares.  Na noite de 6 de fevereiro de 1694 os canhões de Domingos Jorge Velho atingiram a cerca Real de Macaco, destruindo o último reduto de Palmares depois de 14 meses de resistência ao cerco.

Zumbi, aos 39 anos de idade, foi capturado e posteriormente morto. O corpo de Zumbi foi levado para a Cidade de Porto Calvo/AL onde teria sido esquartejado. Sua cabeça foi enviada para o centro do Recife, tendo ficado exposta no pátio da Igreja do Carmo, até se decompor, atualmente existe no local uma estatua em sua homenagem. Hoje, em alguns estados e municípios, no dia 20 de novembro é feriado em homenagem ao dia Nacional da Consciência Negra, que homenageia Zumbi dos Palmares e a história apagada da resistência negra a escravidão no Brasil, ultimo país do Ocidente a abolir a escravidão.

Imagem: Selo dos Correios em homenagem ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: NOSSA SENHORA DE COPACABANA

RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: BATALHA DE GUAXENDUBA

RECORTES DA NOSSA HISTÓRIA: IÇA-MIRIM (ESSOMERIQ) O GUARANI QUE VIROU NOBRE FRANCÊS.